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ENTREVISTA A RAFAEL ZAMORA PADRÓN

BIÓLOGO ESPECIALIZADO EM ZOOLOGÍA / LORO PARQUE FUNDACIÓN

Loro Parque Fundación

 

POR

RAMSÉS BÁEZ

GONZALO BLANCO

 

Tradução:

Ayrton Pacca (Brasil)

Ricardo Clemente (Portugal)

 
Loriidae

 

Gonzalo Blanco e Ramsés Báez, dois dos sócios fundadores de Loriidae (Asociación Española de Aficionados a los Loris, Loritos y Loriculus) que focaram seus objetivos na criação de lóris, contataram o biólogo Rafael Zamora para fazer uma entrevista sobre este interessante grupo de psitacídeos.

 

Uma entrevista extensa que se torna um interessante artigo com detalhes úteis para os aficionados pelos lóris.

Gonzalo Blanco - Avigon

 

CRIAÇÃO

  

Quais são as maiores diferenças que você vê entre o loris e o resto dos papagaios na reprodução em cativeiro?

 

A principal diferença é a sua manutenção em termos de higiene. Em determinados climas, as fezes dos lóris são excelentes meios de cultura de fungos e bactérias. Portanto, o desenho das gaiolas, a colocação dos utensílios internos e o seu manejo devem ser cuidadosamente estudados de modo a não se tornar impraticável.

 

De certa forma os lóris podem se tornar até mais limpo do que outras espécies, mas isso depende muito do criador que lhes assiste.

 

Quanto à dedicação também deve-se explicar que o tempo necessário pode ser muito maior do que em espécies que se alimentam de sementes. Sua dieta necessita, na maioria das espécies, mais tempo na preparação e reabastecimento de comedouros. Com espécies menores, se o criador quer mantê-las bem, será preciso colocar comida até quatro vezes por dia.

 

Qual é a espécie ou espécies que você trem maior predileção aqui no Loro Park?

 

O Loro Park tem predileção por todas. Cada espécie é uma joia por si só e reproduzi-las e mantê-las em número estável exige uma dedicação requintada que nos faz apreciar o conjunto com o mesmo apreço. Quem visita a estação de reprodução do Loro Park em La Vera percebe rapidamente estes detalhes. Existem espécies que os criadores se dedicam menos mas quando as vemos em casais lado à lado com outras espécies similares, percebemos seu valor por alguma peculiaridade que as faz únicas frente à outras. Normalmente é neste ponto que o criador se apaixona e resolve se dedicar à um grupo específico.

 

 

E a você em particular?...

 

Minha fraqueza entro deste grupo são os pequenos lóris bigodudos Oreopsittacus arfaki. Na primeira vez que os vi me pareceram surpreendentes pelo seu tamanho reduzido e características únicas dentro do mundo das aves e do próprio grupo dos lóris. Mas também mentiria se não disser que os Vini, o grupo dos Phigys, os galgulus e todo o gênero Charmosyna são meus preferidos entre os lóris. Não há como mencionar um só. J Perdão.

 

 

 

Qual a espécie de lóris mais problemática para criar?

 

As mais difíceis são as que vemos pouco representadas em cativeiro. São as que não se adaptam bem às dietas que podemos fornecer. Eos histrio por exemplo, com uma acentuada tendência à obesidade, depende muito do ambiente que lhe é oferecido e está diretamente relacionado com a dieta.

 

Os loritos “papa figos” Psittaculirostris ou os Opopsittas são igualmente especiais e carecem de mais esforços para se desenvolver seu manejo.

 

Não gostaria de etiqueta-las de problemáticas de uma forma fácil. Mas tenho que concordar que este é um tipo de pássaro com que muitos criadores podem chegar a se desiludir bastante e rapidamente virar a página para outra espécie que apresente resultados a curto prazo.

 

             

 

 

Porque espécies tão próximas e parecidas fisicamente como por exemplo os Eos bornea, Eos semilarvata e Eos cyanogenia são umas tão fáceis de criar no cativeiro e outras tão complicadas?

 

Conforme falava anteriormente, cada uma tem uma biologia diferente, seus hábitos são distintos e específicos. São estes fatores que marcam a sua adaptação ao longo do tempo e o nosso manejo através das diferentes gerações.

 

Também tem que se ter em conta componentes como a consanguinidade. Muitas destas espécies tiveram sua população muito reduzida e partindo de umas poucas linhas genéticas, chegaram no que temos hoje. Olhando melhor a ecologia destas espécies, podemos encontrar diferenças de especificação e especialização. Os Eos bornea por exemplo estão em um estado de conservação de “menor preocupação” enquanto que os Eos cyanogenia estão neste momento como “ameaçados / vulneráveis”, oriundos de ilhas onde sua população sempre foi menor comparada a dos Eos bornea que são muito mais abrangentes e abundantes. Mesmo que se pareçam no seu aspecto, são especialistas tróficos em seus habitats, que geralmente não são extensos, por não serem terras continentais, pela transformação de seu território para o uso da agricultura e outras atividades humanas e também as capturas, interferem todas na manutenção da sua população.

 

Eos semilarvata por exemplo é quase desconhecido no cativeiro fora da sua zona de origem, onde por outro lado não existem esforços para reproduzi-los. Não faz muito tempo sequer haviam fotos para as enciclopédias de papagaios que conhecemos agora. São maravilhas exóticas que chegaram à pouco tempo no cativeiro. Por tanto também existem exigências de adaptações fisiológicas.

 

 

Sabendo que cada espécie pode apresentar diferentes preferências, inclusive casais da mesma espécie, na reprodução dos lóris, qual tipo de ninho em geral você pode considerar que apresenta as melhores características?

 

Falando de uma maneira em geral, os ninhos em “L” são os mais adequados. Mas é bom sermos generosos para cada casal. Um ninho em “L” e outro vertical ligeiramente inclinado atenderão bem as necessidades deles.

 

Em um centro de criação na Venezuela vi variadas espécies de lóris procriando em ninhos metálicos. Algo que me espantou mas que acolhi com entusiasmo ao ver os bons resultados que davam. Eram horizontais e bem ventilados.

 

Sempre digo que os ninhos não fabricam os ovos nem os filhotes. Os êxitos que obtemos na reprodução dependem de quanto saldáveis mantemos os exemplares e da habilidade do criador em tomar decisões acertadas no momento oportuno.

 

É conveniente mantermos os ninhos durante todo o ano ou retira-los durante o período de descanso da reprodução?

 

Particularmente penso que o ideal é a retirada dos ninhos fora do período de reprodução, ou ao menos fechar o seu acesso. Se desejar ou se for necessário, se pode fazer refúgios para as espécies que buscam esconderijos no inverno. Devemos ver os ninhos como um estímulo para os exemplares e não como um móvel disponível constantemente. Na natureza não vivem vinculados a um ninho por todo o ano e no cativeiro precisam dedicar-lhe tempo e importância para o enriquecimento. A mudança de ambiente e de elementos é fundamental para o bem estar de um casal reprodutor.

 

 

ALIMENTAÇÃO

 

 

Néctares comerciais ou néctares caseiros? Qual você escolheria e que vantagens e inconvenientes você vê em cada um?

 

 Para os meus pássaros particularmente sempre preferi as fórmulas caseiras. É a forma que possibilita desfrutarmos melhor da avicultura, especialmente se se mantém poucos exemplares para que possamos dedicar-lhes o tempo necessário. A estabilidade destas ...fórmulas é menos do que as comerciais e por isso mesmo tem menos componentes desnecessários. No entanto, exigem um manejo mais próximo e frequente.

 

As comerciais dão mais independência ao mantenedor e estão cada vez melhores além de terem a grande vantagem de proporcionar uma base estável à dieta que em algumas ocasiões pode faltar à caseira por ausência de algum ingrediente ou imprecisões no cálculo da fórmula.

 

Creio que o melhor é combina-las, ajustando as quantidades oferecidas. Se se consegue um equilíbrio de acordo com a gradação e a decisão do criador, se consegue um controle dos resultados.

 

Nos lóris a chave está em conseguir uma dieta que os exemplares possam metabolizar rapidamente. Este é o segredo com estas espécies. Tudo que os lóris não metabolizam é acumulado de forma prejudicial no seu corpo. Se fazem pouco exercício, isso fica ainda pior. Os lóris são atletas incansáveis que estão sempre cutucando diferentes lugares. Não são como os granívoros que fazem deslocamentos, comem, descansam e se dedicam à outras atividades. Em geral os nectívoros tem uma atividade mais intensa, como se tivessem fome constantemente embora realmente não seja assim. Com um metabolismo muito rápido, tem-se que entender a sua biologia, onde buscar pequenas quantidades de alimentos é a sua rotina habitual ao invés de ingerir grandes quantidades de uma só vez de um mesmo prato colocado no mesmo lugar. Compreendido este conceito se pode obter muito sucesso com eles.

 

Aqui no Loro Park se varia a alimentação dos lóris de acordo com a estação de reprodução e de repouso?

 

Sim, especialmente porque é muito importante faze-lo para manter a saúde dos exemplares.

 

 

Quantas dietas diferentes vocês preparam para os lóris? Fazem dietas específicas por gênero ou por espécie?

 

Fazemos uma dieta básica de néctar e outras de acordo com os grupos de espécies, entendendo-se que cada casal necessita de atenções especiais. Existem casais que funcionam melhor com um tipo de fruta cortada. A observação do criador neste ponto é essencial. Isso não se trata de dar-lhes caprichos desnecessários e sim assegurar que as aves tenham uma alimentação completa de forma equilibrada.

 

Desta forma, quanto maior o número de casais, muito mais complexo se torna a manutenção ideal deles.

              

 

Uma vês desmamados, os filhotes necessitam de um aporte extra de proteína até chegar a idade juvenil ou à primeira muda, ou são alimentados com uma dieta similar à dos adultos?

 

É importante manter um aporte proteico maior depois do desmame afim de formar a estrutura dos filhotes, mas de maneira complementar. Na época da muda também necessitam de uma ajuda nesse sentido e também de máxima higiene, mas tudo depende das condições que se pode oferecer. Vai depender do clima, das instalações e da condição de voo para o exercício dos filhotes, de tal modo que se o criador mantem essas aves jovens em voadeiras bastante amplas onde eles possam voar à vontade e tomar banhos de sol, necessitara de dar-lhes menos atenção comparado ao criadouro que tenha que mantê-los em espaços menores onde o exercício será consequentemente menor.

 

Fornecem alimento vivo aos lóris?

 

Sim, lhes damos Tenébrio molitor, que a maioria aceita muito bem na época de procriação. Fora dela, o casal não demonstra muito interesse nesta fonte alimentar, o que a torna desnecessária.

 

 

Você recomenda adicionar vitaminas ou minerais na dieta dos lóris?

 

...

Feito da maneira correta sim, mas somente quando exite necessidade. Também é importante fazer os cálculos corretamente porque as dietas comerciais já estão adicionadas de vitaminas e minerais. A fisiologia dos lóris, como sabemos, é diferenciada. Tem um metabolismo bastante ativo e rápido. Falhas nos cálculos desses ingredientes podem ter consequências desastrosas levando à perda de aves sem muitos avisos. Por isso este não é um assunto para abordarmos de forma ligeira. Muita gente suplementa a dieta dos lóris de forma intuitiva e desorientada pensando em seu benefício. “Vitaminas” soam como algo positivo, mas uma hipervitaminose significa justamente o contrário.

 

 

Considera conveniente o fornecimento de sementes germinadas e brotos aos lóris? Quais você acha as mais apropriadas?

 

Claro que são recomendadas, mas não em grandes quantidades. Pode ser um pequeno aporte diário, antes e durante a época reprodutiva. Ricas em minerais, proteínas, enzimas e antioxidantes, várias leguminosas são muito interessantes para enriquecer sua dieta. No caso dos lóris, acredita-se que as sementes de chia são úteis. Minha recomendação é fazer a germinação separadamente de cada semente e utilizar apenas um tipo de germinado de cada vez oferecido em dias alternados. O objetivo principal consiste em evitar a contaminação, visto que os germinados são particularmente sensíveis à contaminação por fungos e bactéria. Tem-se que manejar este tipo de alimento com muito escrúpulo e em quantidades realmente pequenas e calculadas para cada exemplar de tal modo que não fiquem restos dentro de no máximo quatro horas. Não é dando um quilo de germinados que se conseguirá melhores resultados do que dando três gramas. O criador tem que combinar este elemento como um suplemento útil.

 

 

Acha necessário o uso de probióticos? Em caso afirmativo, em que momentos acha conveniente?

O melhor é antes do período de procriação durante o período de repouso, assim como nos períodos de convalescência. Não é algo para se usar de forma indiscriminada e durante todo o ano e nem uma vez por mês.

 

 

Existem muitos criadores de Cyclopsittini que conseguem ter crias, mas estas morrem em poucos dias. O que você acha que falta na sua alimentação?

 

...

A falha básica é na dieta que é difícil de se chegar a mais acertada, levando-se em conta o local onde está situado o criadouro. Uma dieta muito calórica em um clima quente e húmido não funciona assim como em um clima fresco e seco. Os parâmetros variam muitíssimo de acordo com a adaptação, ou ainda pior, de acordo com cada exemplar também.

 

No manejo também está parte do êxito. Os Cyclopsittini são especialmente sensíveis às manipulações dos ninhos e por conta disso o ideal é não incomoda-los. Se o casal conseguir tirar várias ninhadas, o criador pode arriscar as primeiras manipulações para ver como funcionam.

 

Sem nenhuma dúvida são espécies para criadores com muita experiência e que de preferência estejam focados apenas neste grupo.

 

 

MANEJO

 

 

Quais ações devem ser tomadas quando um casal tem ovos não fertilizados continuamente?

 

...

- Submeter o casal a um checkup por um veterinário especializado em aves.

- Coletar amostras para checagem de possíveis infecções.

- Verificar a estabilidade dos poleiros.

- Verificar a saúde dos pés dos indivíduos. Se há falta de dedos ou unhas.

- Observar as cópulas.

- Observar as idades e avaliar a necessidade de suplementação vitamínica.

- Alterar localização do casal.

 

Se o casal realmente não é compatível, não dormem juntos ou no mesmo poleiro, não tem longos períodos de casamento, há frequentes confrontos ou nunca estão juntos perto do ninho, não há outro remédio a não ser desfazer essa tentativa de união, primeiramente por um longo período em que preferencialmente eles não se vejam nem se escutem.

 

Depois disso, recoloque o casal em um viveiro diferente. Se isso não funcionar, será necessário buscar novos exemplares para tentar emparelhamentos diferentes.

 

 

Você acha que esses casos também ocorrem na natureza ou são exclusivos da reprodução em cativeiro devido ao manejo incorreto?

 

Na natureza ovos inférteis são mais comuns do que as pessoas possam pensar. Muitas fêmeas levam várias estações para obter uma ninhada.

 

Em cativeiro os fatores que podem afetar essa situação aumentam significativamente.

             

 

Na natureza costumamos ver o lóris em bandos. No cativeiro você acha que seria benéfico coloca-los em grupos fora da época de reprodução?

 

Definitivamente isso seria bom para eles. A interação do grupo dá muito vigor e desenvolve comportamentos naturais necessários para um melhor futuro imediato.

 

Os grupos estimulam uma dieta mais equilibrada dos espécimes quando eles têm espaço. O mesmo acontece com os exercícios físicos.

      

 

Em cativeiro ocorrem casos de espécies que nascem um número muito maior de exemplares do mesmo gênero, como o excesso de machos nos Charmosyna. Você acha q...ue existe alguma possibilidade de evitar essa distorção?

 

Você tem que abordar esse situação de forma mais abrangente. Muitas vezes esses desvios são pontuais ou por alguns anos. Aqui na Europa, por exemplo, em determinados anos que os criadores me disseram que nasceram somente machos, curiosamente no Loro Parque Foundation poderiam ter nascido mais fêmeas do que machos. Isso nos aconteceu com muitas outras espécies em que alguns desvios realmente ocorrem em alguns anos, mas finalmente olhando para as proporções globais são equilibrados. Você pode controlar.

 

Há muitas teorias sobre os fatores que influenciam, mas devem ser estudadas cuidadosamente.

 

 

Na Europa existem criadores que tentam criar lóris goldie, galgulus e algumas outras espécies em colónias. É possível reproduzi-los em colônias?

 

É possível, embora isso não seja habitual. Nós tivemos algum sucesso com Eos histrio, que se estimulam bastante quando estão em colônia dividindo território.

 

Sabemos de criadores que têm obtido bons resultados com os galgulus em colônia, mas sempre vai depender da proporção entre machos e fêmeas, do espaço disponível e das opções para se movimentarem. O projeto do aviário é fundamental e o comportamento das aves variam muito dependendo do ambiente.

 

O que conhecemos bem é sobre os inconvenientes quando se mantem apenas dois casais em um pequeno recinto com poucas opções para evitar o contato visual entre os indivíduos em determinados momentos.

 

O aumento em casais juntamente com a possibilidade de se evitar competição por poleiros comuns e áreas de alimentação, aumentam consideravelmente as chances de sucesso sem conflito. Não se deve deixar de considerar que existem indivíduos mais agressivos e que isso dificulta a sua inclusão em grupos e para formar casais, o que torna a observação constante uma necessidade indispensável para você controlar as diferentes situações. 

 

 

Recentemente saiu um estudo da LPF que reportou a melhora reprodutiva de ecletus mantidos em colônias juntamente com um casal de cacatuas brancas no mesmo viveiro, obtendo assim um maior número de ovos férteis, possivelmente devido à competição entre as espécies. Você acha viável fazer algo semelhante com lóris? Se sim, qual espécies seriam mais adequadas?

 

Eu tenho que dizer que eu não recomendo, porque os lóris podem ser muito territoriais nesses períodos. As misturas inter-espécies podem resultar em lesões de proporções impensáveis e nem sempre as espécies maiores são as mais perigosas. Um casal de Lorius pode acabar matando outro de cacatuas palma.

 

Se a relação inter-espécies ocorre entre um grupo de lóris de tamanhos semelhantes e eles tem as condições ideais, você pode tentar com uma grande vigilância.

 

Os seguintes gêneros são compatíveis:

 

- Vini, Glossopsitta, Phygis, Loriculus.

- Trichoglossus entre si, mas com o risco elevado de hibridações.

- Chalcopsitta, mas com alto risco de ataque.

- Grupo Lorius mas precisa-se estar muito atento à territorialidade na época do acasalamento.

 

Devo insistir que a quantidade de espaço, de ninhos, de comedouros e bebedouros e também a quantidade e localização de poleiros irá desempenhar um papel fundamental na manutenção desses grupos com sucesso.

 

         

 

Entre os Lóris encontramos casais que não alimentam ou até mesmo atacam seus filhotes. O que você acha que pode causar esse comportamento? O que pode ser feito para mudar esta situação?

 

...

A falta de experiência e maturidade na maioria dos casos cria estes problemas. Também ocorre pela ausência de compatibilidade entre o casal. Machos não alimentam suas fêmeas e / ou forçam-nas a permanecer no ninho.

 

Animais não socializados em sua juventude também pode ser um impedimento para o desenvolvimento de formas de comportamento normais da espécie.

 

Os ataques à prole também são multifatoriais. Deficiências nutricionais, níveis muito elevados de hormônio, devido à localização relativa da gaiola para predadores ou outros animais que podem criar tensão aos pares, ou problemas de parasitas invasores noturnos como ratos, etc., podem conduzir a essas atitudes prejudiciais.

 

O criador deve prestar atenção e corrigir estas situações à medida que as vá identificando. É um trabalho de detetive com base na informação disponível.

 

 

CONSERVAÇÃO

 

Qual é a importância da conservação dos lóris em cativeiro?

 

O objetivo principal deve ser de reproduzi-los no maior número possível. Embora haja a desvantagem de que eles são aves que se tornaram exclusivas porque nem todos os criadores podem mantê-las. Também não têm a mesma saída que outras espécies e basicamente são a avicultores determinados.

 

A importância de manter uma população saudável em cativeiro é alto porque você nunca sabe qual dessas espécies sensíveis podem desaparecer no seu habitat. E aqueles nos centros de reprodução, ainda longe de poder ter sua prole libertada em seus locais de origem, podem se tornar a chave para compreender melhor a biologia e ser capaz de ajudar no habitat onde eles podem estar ameaçados.

 

Qual é a razão para a redução mundial da população em cativeiro de algumas espécies de lóris e o que pode ser feito para minimizar este problema?

 

Como mencionei em outra resposta, esta questão está sempre relacionada com os poucos fãs e criadores que podem se dedicar à sua manutenção.

 

Não sendo aves cuja gestão é acessível para qualquer aficionado, sua reprodução é limitada assim como a sua expansão.

 

Soluciona-lo é tão complicado como tornar os seres humanos mais interessados em um pássaro extinto ou que tenham poucos em cativeiro ao invés de um mamífero carismático que terá muito mais oportunidades para a sua conservação. Este último tem tudo a ganhar.

 

 

Você acha que a reprodução em cativeiro de lóris, bem como outras espécies, esta fadada a desaparecer com o tempo, devido à inevitável consanguinidade?

 

Não, de forma nenhuma. Em minha experiência, a reprodução de espécies em cativeiro é variável. Existem anos que uma espécie está bem representada em criadouros e, paradoxalmente, se esta situação continuar por um par de temporadas, baixa a demanda e em breve novamente torna-se difícil de encontrar. Só as extremamente raras e que se reproduzem mal, mantidas em alguns zoológicos, podem chegar a desaparecer.

 

A consanguinidade é uma questão para se considerar, contudo ela não limita 100% a reprodução de uma espécie em cativeiro. Muitas espécies de aves bem estabelecidas em centros de criação profissionais ou de aficionados novatos vêm de alguns poucos espécimes reproduzidos várias gerações antes. A coincidência de genes pode ocorrer em certos casos, a expressão que normalmente permanecem características escondidas. Aparecendo novas cores, tamanhos diferentes de penas e alterações fenotípicas em geral. Até mesmo em determinados momentos, taxas de infertilidade entre os casais ou expressão de fatores letais que causam morte embrionária. Entretanto a força de selecionar e provar com os diferentes exemplares, os criadores conseguem superar esse gargalo para aumentar as populações manejadas. O que estou descrevendo já aconteceu antes com muitas outras espécies. Finalmente, selecionamos os que criam melhor, quase sem o saber, graças a essa qualidade.

             

 

Quantos casais de uma espécie que você acha que devem ser mantidos pelos criadores europeus em cativeiro para evitar consanguinidade em médio e longo prazo?

 

Tantos quanto possível. Pergunta difícil e resposta incomplet...a. O ideal é que cada criador conte com três pares de pelo menos três linhas de sangue diferentes. E talvez o mais importante, tendo as origens bem definidas e identificadas. Trabalhar a consanguinidade com conhecimento pode ser bastante complicado e difícil quando chega a hora da tomada de decisões. Embora também seja verdade que os pássaros são muito gratos a este respeito e a inclusão de novos genes em um grupo aparentado é observado com mais velocidade do que o esperado.

 

 

Infelizmente tem-se visto o desaparecimento de espécies lóris na Europa enquanto outras são muito raras e no futuro muito próximo o seu desaparecimento é inevitável. Quais espécies que você considera que estão destinadas a desaparecer?

 

Muitas como a Charmosyna multistriata parecem ter desaparecido completamente dos criatórios europeus para surgir de repente em algum lugar na Europa na casa de um amador aposentado que não têm muito interesse em divulgar seus sucessos.

 

Outros, como o Chalcopsitta atra insignis ou os próprios Oreopsittacus arfaki já estão bastante escassos. Este último têm uma demanda limitada para a colocação dos seus excedentes.

 

Alguém vê um arfaki como um animal de estimação em um pet shop? A resposta é: NÃO. Tão delicados, tão trabalhosos para se manter e porque as garantias de que um exímio criador possa ser bem sucedido com eles são muito baixas. Por isso mesmo não seria rentável à um varejista especializado enfrentar tamanhas dificuldades com margens de lucro muito baixas.

 

 

Verificamos recentemente na última edição da revista do Loro Parque Fundação que você colabora com um projeto in-situ para ajudar o Lathanus discolor. Quais são as principais medidas que se deveria adotar para interromper a sua drástica diminuição no seu habitat natural e assim evitar que ela seja incluída no Anexo A da CITES?

 

A chave esta na pesquisa de campo deve produzir dados concretos que indiquem as soluções a serem adotadas. Por outro lado as populações humanas locais também deve conhecer os problemas das aves que estão no seu entorno e saber da importância do respeita-las e ajuda-las. São vários passos para se chegar a um final feliz que exigem tempo e financiamentos.

 

O Lathanus discolor é um papagaio que realiza migrações com mudanças drásticas de habitats. Suas viagens vem se sucedendo há anos e certamente guiado por um instinto esculpido com base na aprendizagem e desenvolvimento dos indivíduos. Esta característica os torna muito especiais no mundo dos papagaios e, portanto, são provavelmente mais sensíveis às mudanças e a devastação dos ambientes em que se movem. A forma de procurar comida em outras espécies de papagaios lhes permite dominar um determinado ecossistema onde a sua memória desempenha um papel importante. Se uma espécie de psitacídeo se muda para um ecossistema distante, onde os elementos esperados estão faltando, o impacto negativo sobre o sucesso da espécie devera ser significativo e imediato. Se um animal não tem comida em um lugar especial em seu ambiente familiar existirão sempre opções nas proximidades para localizar outra fonte de alimento, mas para aquele que migrou muitos quilómetros é muito mais complicado, tendo em conta as sua necessidades urgentes de energia.

 

Outros fatores também contribuem para as desvantagens que esta espécie encara. Devemos determinar em que circunstâncias eles enfrentam espécies de mamíferos que se alimentam de seus ovos nas áreas de reprodução.

 

Como sempre uma tarefa árdua da pesquisa científica para os especialistas apoiados pelo Loro Parque Foundation.

 

 Se poderia manter esta espécie em uma voadeira com vários casais juntos? Será este o melhor método para mantê-los ou é melhor colocá-los em aviários e casais independentes?

 

...

Sim, eles se mantêm bem em grupos e são muito sociáveis. De qualquer forma você deve atender as premissas de uma boa instalação para uma espécie de voo rápido que sempre concorre pelas altas posições das voadeiras.

 

Para criar não é necessário, uma vez que eles vão muito bem em gaiolas individuais que podem ter três metros de profundidade ou menos. Com gaiolas lado a lado onde os casais da mesma espécie podem ser vistos entre eles costuma-se obter ótimos resultados.

 

 

Você considera viável a criação de lóris em cativeiro para uso em programas de reintrodução na natureza?

 

Para a sua viabilidade não há problema. Isso pode ser feito e os lóris constituem um grupo de espécies que pode ter como bastante adequado para tais processos.

 

Não obstante, na maioria dos casos a reintrodução não é a solução para quase nenhuma das espécies que estão em risco no seu habitat natural. Deve-se trabalhar primeiro na restauração dos habitats e investigar as razões que levaram ao desaparecimento de flora e fauna que nelas vivem.

    

 

Rafael muito obrigado por tudo. Uma última pergunta. O que você recomendaria para os criadores que estão agora mergulhados no mundo dos lóris?

 

Que não abandonem e nem desistam desta espécies por mais difícil que por vezes pareça. Se se decidiram pelos lóris é porque têm capacidade, talento e interesse por eles e devem ter em conta que com o tempo, aqueles objetivos que pareciam mais distantes são alcançados graças à perseverança. Às vezes, são superandas todas as expectativas.

 

Eu convido vocês a se tornarem membros da Fundação Loro Parque fez participando assim na proteção da natureza de uma forma eficaz e se somando à nossa busca e troca de informações sobre cada uma das espécies, tanto na natureza como em cativeiro. Este é o caminho para crescer juntos desfrutando e analisando cada detalhe de nossas conversas entre criadores, onde as experiências de cada um pode ser o sucesso das aves que estão sob nossa responsabilidade.

Através da  Loriidae queremos encorajar todos os leitores desta entrevista para se tornar membros do Loro Parque Fundação, não só porque você tem direito de entrar quantas vezes quiser no Loro Parque, visitar o centro de reprodução da Fundação Loro Parque e receber a revista Loro Parque “Cyanopsitta”, mas porque 100% do seu dinheiro irá para a conservação da natureza por meio de muitos projetos de conservação do Loro Parque Foundation.

 

 

         

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Loriidae.es - 2.015